UM CORPO QUE FICA EM PÉ
Não é, no entanto, o que parece. José passa de
"rei" (como Midas) a prisioneiro. A prisão parece perseguir o filho
de Jacó. Os interlúdios da sua vida são passados nas prisões, piores que o poço
de Dota, porque eram escuras, imundas e
úmidas, não tinham banheiro nem banhos regulares de sol, propícias, portanto,
ao surgimento das mais variadas doenças. Este sofrimento natural estava
acompanhado do terror da possibilidade da morte, que podia ser decretada a
qualquer instante. Foi o que José mereceu por ter ficado firme.
Não é que nos sentimos por vezes, ao termos tomado uma
decisão certa, por termos ficado ao lado da verdade bíblica?
2.1. Anatomia da firmeza
E por que José permaneceu firme mesmo diante da tentação
diária? Em nenhum momento, a sua defesa, diante do perigo iminente, se enfraqueceu.
A mulher lhe convidava todos os dias, e como é duro resistir, a um convite
persistente, especialmente quando aparentemente tão bom e particularmente
quando se tem 20 anos, como provavelmente era a idade do rapaz. Se cedesse,
teria a possibilidade de pôr a culpa na mulher; poderia até dizer que cumprira
ordens superiores, como aqueles cruéis militares da prisão de Abu Grab.
2.1.1. José se manteve firme porque sabia que Deus é santo.
A chave da sua integridade está expressa no verso 9: como,
pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus? Ele sabia que Deus é
santo. Menos privilegiado que nós, que temos centenas de textos bíblicos a nos
afirmar esta verdade, ele o sabia pela tradição recebida e pela própria
experiência. Antes de Moisés, ele sabia que o Deus santo quer se relacionar com
pessoas santas: eu
sou o Senhor, o Deus de vocês; consagrem-se e sejam santos,
porque eu sou santo (Levítico 11.24). Consagrem-se, porém, e sejam santos,
porque eu sou o Senhor, o Deus de vocês. Obedeçam aos meus decretos e
pratiquem. Eu sou o Senhor que os santifica (Levítico 20.7-8) Vocês serão
santos para mim, porque eu, o Senhor, sou santo (Levítico 20.26).
Por conhecer a Deus, José sabia do significado do pecado.
Ele tinha uma idéia clara do pecado, sem
concessão ao relativismo, sem apelo a
auto-justificativas. Faltar à honestidade para com o seu senhor era pecar
contra Deus. Ceder à sedução da sua senhora era pecar contra Deus.
A força do pecado está em nossa ignorância de quem Deus é. O
pecado nos derruba toda vez em que nós usamos adjetivos para torna o que ele
não é: um atentado contra Deus. Toda vez que perdemos a noção de que o maior
prazer de um ser humano é conhecer a Deus ganhamos a noção de que o pecado não
é tão trágico assim. E quanto perdemos esta noção, nos afundamos nele e nos
afastamos de Deus.
2.1.2. José se manteve santo porque sabia que Deus estava
com ele.
Tudo que lhe acontecia, especialmente a prosperidade em meio
à dificuldade, sabia-o José, vinha de Deus.
Seu sucesso no campo gerencial era apenas uma evidência, mas
não a única do modo como se sentia amado por Deus. José não percebia o seu
trabalho apenas como um ganha-pão, mas como um ganha-almas. Seu trabalho era
para abençoar pessoas. Sua vida era para abençoar pessoas.
Sabendo-se amado por Deus, ele não trocaria o amor leal de
Deus pelo amor falso de uma senhora da elite. Não precisava do prazer do pecado
para suprir as suas necessidades, preenchidas sempre por Deus, que o livrara da
morte tantas vezes.
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Deus estava no comando de sua vida, mesmo que parecesse que
estivesse desamparado e injustiçado.
2.1.3. José se manteve íntegro porque tinha uma visão
correta acerca da vida.
Além de sua visão de Deus, José, formoso de porte e de
aparência (verso 6b), sabia da efemeridade da beleza. Tinha ele, portanto, uma
boa visão de si mesmo. Sabia que não podia dirigir a sua vida pelos seus olhos;
não podia ser dirigido por sua beleza; não podia ser conduzido por seus
músculos.
Além da insustentável leveza de qualquer beleza, José sabia
que desculpas não o eximiriam do seu pecado. Um homem "levado" e
"comprado" poderia usar estas circunstâncias para se deixar derrotar
pela auto-comiseração ("Já que ninguém gosta de mim, a vida que se dane, a
moral que se arrebente; vou é ser feliz agora, nem que seja por um momento. Não
me resta mais nada na vida mesmo").
Ceder à mulher de Potifar era sua chance, mesmo que fugidia, de dar a volta por cima ou de parecer que dava a volta por cima...
Ceder à mulher de Potifar era sua chance, mesmo que fugidia, de dar a volta por cima ou de parecer que dava a volta por cima...

2.2. Estratégias da vitória
A sabedoria deste jovem é extraordinária. Podemos todos nós,
não importam as nossas idades, aprender estratégias de vitória sobre as
tentações.
2.2.1. José não gostou de ser desejado.
José devia estar emocionalmente fragilizado; sua auto-estima
tinha tudo para roçar o chão. Rejeitado pelos irmãos, transformado em
mercadoria, tudo o que queria era fazer o seu trabalho. Não tinha nada, nem
mesmo sua túnica colorida, dada pelo seu pai. Eis que, então, a patroa o cobiça.
Mesmo sabendo que aquele seria um amor impossível, poderia ter se sentido
lisonjeado. "Finalmente, alguém olha para mim como gente", poderia
ter pensado. Muitas quedas começam aí. Homens ou mulheres rejeitados são presas
fáceis para os sedutores de plantão porque, secretamente também, curtem a
curtição.
Se queremos vencer como José, devemos rejeitar o prazer de
sermos desejados. Mesmo as admirações secretas devem ser podadas, porque um dia
elas podem deixar o segredo e se insinuar. José cortou o mal pela raiz; ele
cortou o mal em si mesmo, já que não podia cortar na mulher que o tentava.
2.2.2. José não deixou de viver por causa da tentação.
Para não ser acusado de negligente, José entrou na casa para
fazer o seu trabalho. José não ficou paralisado diante do perigo, mas o
enfrentou. Ele não tinha escolha. Não tinha outro para ir; aquele era o seu
lugar de escravo.
No entanto, ele fez algo notável. Ele evitava ficar perto
dela (verso 10). Ele se conhecia o suficiente para saber quem está em pé deve
ficar atento para não cair (1Coríntios 10.12). Esta foi sua maneira de resistir
ao diabo (Tiago 4.7). E Deus, que é fiel, confirmou sua decisão e o guardou do
maligno (2Tessalonicenses 3.3). A promessa divina continua válida. E Deus
aguarda que desenvolvamos nossos cuidados, para dificultar a ação de Satanás
sobre as nossas vidas; não lhe podemos dar moleza, porque ele está em volta de
nós para nos tragar (1Pedro 5.8).
2.2.3. José não perdeu a noção do certo e errado.
Num país estrangeiro aquilo que aprendeu como certo na sua
terra podia não valer agora. José não caiu neste erro; ele não confundir
verdade com erro; não relativizou o errado. Por mais justificativas que tivesse
para o seu ato, não o cometeu, porque manteve uma visão correta acerca do
pecado. Ele não trairia apenas o Potifar, mas trairia o Deus que estava com
ele.
Em termos mais modernos, não era libertino, achando que o
que o corpo faz não tem nada a ver com a alma. Toda a sua vida estava nas mãos
de Deus: sua beleza e história; seu corpo e sua mente; seu físico e sua alma.
Deus era mesmo o seu Senhor. Tudo o que pensava ou fazia era espiritual. O
trabalho era o território da soberania de Deus sobre a sua vida, não apenas um
ganha-pão. Seus relacionamentos eram o campo em que Deus agia livremente e ele
obedecia prazerosamente.
2.2.4. José não teve medo do preço a ser pago por sua
decisão.

Fazer o certo não era nutrido pela eventual recompensa.
Mesmo que não fosse recompensado por fazer o certo, ele faria o certo.
O preço foi a prisão imediata, mas poderia ser a morte, e a
nódoa que ficou sobre a sua biografia. A injustiça nunca foi reparada. A
biografia de José ficou injustamente para sempre manchada.
Só lhe importa um julgamento: o de Deus. Mesmo quando José
saiu do poço para o topo, dez anos depois, não consta no texto bíblico seguinte
que tenha ido buscar Potifar para lhe punir pela injustiça por causa da mentira
da sua mulher.
Há um preço pela obediência a Deus a ser pago no tribunal
dos homens. No entanto, o que importa mesmo é ser absolvido no tribunal de Deus,
diante do qual todos comparecemos a cada dia. Ele parecia ler o que nós
podemos, isto é, o apóstolo Paulo nos ensinando: Pouco me importa ser julgado
por vocês ou por qualquer tribunal humano; (...) o Senhor é quem me julga.
(...) Esperem até que o Senhor venha. Ele trará à luz o que está oculto nas
trevas e manifestará as intenções dos corações. Nessa ocasião, cada um receberá
de Deus a sua aprovação (1Coríntios 3.3-5).
***
Quem queremos ser?
A mulher de Potifar, sem nome, escrava do desejo, tornado
seu deus?
José, com um nome e uma longa história vivida na certeza que
Deus estava com ele?
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