Os atributos dos presbíteros, os pastores que apascentam
o rebanho (1.6-9)O Novo Testamento detalha com grande precisão as funções do presbítero: 1) o presbítero deve pastorear a igreja do Senhor (At 20.28; iTm 3.5; IPe 5.2); 2) o presbítero deve proteger a igreja tanto dos ataques externos quanto dos internos (At 20.29-31); 3) o presbítero deve dirigir e governar a igreja, servindo-lhe de exemplo (iTs 5.12; iTm 5.17; H b 13.7,17; IPe 5.3); 4) o presbítero deve pregar a Palavra, ensinar a sã doutrina e refutar aqueles que a contradizem (iTm 5.17; T t 1.9-11); 5) o presbítero deve orientar a igreja nas questões doutrinárias e éticas (At 15.5,6; 16.4); 6) o presbítero deve viver de tal forma que sua vida seja um exemplo para todo o rebanho (Hb 13.7; IPe 5.3); 7) o presbítero deve corrigir com espírito de brandura aqueles que são surpreendidos em alguma falta (Gl 6.1); 8) o presbítero deve velar pela alma daqueles que lhes são confiados, sabendo que prestará contas desse pastoreio ao Supremo Pastor (Hb 13.17); 9) o presbítero deve exercer o ministério da oração, especialmente em relação aos crentes T ito e F ilemom - doutrina e vida um binôm io inseparável enfermos (Tg 5.14,15); 10) o presbítero deve estar engajado no cuidado dos crentes pobres (At 11.30).^^ O retrato que Paulo traça do presbítero é emoldurado pela irrepreensibilidade.
O presbítero (1.6) ou bispo (1.7) deve ser irrepreensível. John Stott corretamente diz que isso
não quer dizer que os candidatos teriam de ser totalmente isentos falhas e defeitos, pois nesse caso todos seriam desqualificados. A palavra empregada é anenkletos, “sem culpa, nao passível de acusação” e não anômos, que significa “sem mácula”. O presbítero não pode deixar flancos abertos na sua vida nem ter brechas no seu escudo moral. Seu ofício é público e sua reputação pública precisa ser inquestionável. Calvino diz que o presbítero deve ser um homem de reputação ilibada, sem mancha.^’ O presbítero precisa ter doutrina pura e vida pura.
O presbítero precisa ser irrepreensível em três áreas distintas.
Em primeiro lugar, o presbítero precisa ser irrepreensível como líder de sua fam ília (1.6). O presbítero precisa ser irrepreensível em dois pontos vitais dentro de sua família:
Ele deve ser irrepreensível como marido (1.6). O presbítero precisa ser um homem íntegro em sua conduta conjugal. Ele precisa ser um marido fiel à sua esposa. Ele não pode
ser um homem adúltero, mantendo relacionamentos
extraconjugais; nem polígamo, casando-se com várias
mulheres. Calvino destaca o fato de que a poligamia era tão
comum entre os judeus, que o perverso costume quase se
havia convertido em lei.’“° Essa cultura estava em desacordo
com o padrão divino para a liderança da igreja.
O que significa o termo “marido de uma só mulher?”
Obviamente, Paulo não excluiu do presbiterato o homem
Como distinguir os pastores dos lobos solteiro ou o viúvo que se casou novamente. Antes, ele está
instruindo a igreja que os poligamois e os que se divorciam
e se casam novamente, por razões nâo amparadas nas
Escrituras, estão desqualificados para esse ofício (Mt 19.9; lC o 7 .1 5 ).
A interpretação de J. N. D. Kelly me parece exagerada quando entende que “marido de uma só mulher” se refere a um homem que não se casou outra vez depois da morte de
sua esposa ou depois do divórcio.^“' Concordo com Erdman quando orienta que “marido de uma só mulher” quer dizer marido fiel, ou seja, um homem livre de qualquer suspeita
quanto à sua relação matrimonial.'®^ Ele deve ser irrepreensível como pai (1.6). O presbítero
precisa ser o sacerdote do seu lar, o líder espiritual da sua família. Deve criar seus filhos na disciplina e admoestação do Senhor. Precisa orar com seus filhos e por seus filhos.
Concordo com William MacDonald quando diz que, embora um pai não possa determinar a salvação
de seus filhos, pode preparar o caminho do Senhor por intermédio da positiva instrução da Palavra, da amorosa disciplina, evitando toda forma de hipocrisia e a inconsistência da própria vida (Pv 22.6).'°^ Se o presbítero não sabe governar a própria casa, como poderá governar a igreja de Deus,
pergunta o apóstolo Paulo (ITm 3.4,5). John Stott diz que os pais que não tiveram sucesso
na condução dos próprios filhos não são merecedores de confiança quanto a conduzir a família de Deus.’°^ Entretanto, Hans Burki diz que, quando os filhos em uma casa são obedientes e crentes, pode-se concluir que o pai também é apto para presidir a família eclesial.'®^
Concluímos, portanto, que os filhos dos presbíteros devem
ser cristãos. Eles devem ser nâo apenas salvos, mas também
T ito e Filemom - doutrina e vida um binômio ln n p ttilv tl ________ bons exemplos de obediência e dedicação. Obviamente isso se aplica aos filhos que vivem com a família sob a autoridade
do pai.^o*^ Paulo continua em seu argumento, dizendo que os filhos
dos presbíteros não podem ser dissolutos nem insubordinados.
A palavra grega asotia, “dissoluto”, significa dissolução ou libertinagem. Tratã-se da pessoa incapaz de guardar dinheiro, alguém que desperdiça seus bens, especialmente com a implicação de fazê-lo em prazeres, arruinando, desse modo, a si mesmo com uma vida luxuriosa e extravagante.'
®^ O homem asotos é o gastador extravagante que se entrega aos prazeres pessoais. E a palavra utilizada em Lucas 15.13 para referir-se à vida desenfreada do filho pródigo. O
homem que é asotos destrói sua riqueza e finalmente arruína- se a si mesmo. Os filhos dos presbíteros, de igual forma, não podem ser insubordinados, ou seja, precisam acatar e obedecer
à autoridade dos pais. Hans Burki diz que a convivência em família era de significado essencial para a expansão e o aprofundamento da fé, uma vez que as igrejas ainda eram
quase exclusivamente comunidades domiciliares, e porque o entorno muitas vezes hostil observava com atenção máxima o que acontecia nesses lares. Em segundo lugar, o presbítero precisa ser
irrepreensível como despenseiro de Deus (1.7,8). Paulo, ao elencar as marcas de um presbítero, aborda o assunto sob duas perspectivas. Ele trata do assunto negativamente, o que um presbítero não deve ser e, positivamente, o que um
presbítero deve ser. Primeiro, o presbítero deve ser conhecido pelo que ele não é
(1.7). Antes de falar das virtudes do presbítero, Paulo fala dos defeitos que ele não deve ter. Paulo apresenta cinco termos Como distinguir os pastores dos lobos
negativos, que se relacionam com cinco áreas de grande tentação, ou seja: arrogância, temperamento irascível, não dado ao vinho, violento e ganancioso.“ “ Vejamos cada uma
dessas descrições. O presbítero não deve ser arrogante. A palavra grega authades,
“soberbo, arrogante”, significa literalmente satisfazer
a si mesmo. Trata-se da pessoa que exalta a si mesma, que
só se preocupa consigo mesma e olha para os outros com
discriminação e desprezo. É aquela pessoa que obstinadamente mantém a própria opinião, ou assevera os próprios direitos e nao considera os direitos, sentimentos e interesses
de outras pessoas."’ Gene Getz diz que o homem arrogante é um homem egocentrista. Ele constitui a própria autoridade.” ^ William Barclay descreve ainda o arrogante com
as seguintes palavras: É uma pessoa intolerante, que condena tudo o que não pode
compreender; que pensa que não há outra forma de fazer as coisas que
não seja a sua, que crê que não existe outro caminho para o céu que não seja o seu, que menospreza os sentimentos e as crenças dos demais."^
O presbítero não deve ser irascível. A Bíblia não classifica
toda ira como pecado (Ef 4.26); o que ela condena é o homem genioso, esquentado, de estopim curto, que, além de irar-se com facilidade, também fica remoendo por longo
tempo a sua ira."'^ Na língua grega há duas palavras para descrever esse espírito irascível. A palavra thumos é aquela ira que surge rapidamente e também com a mesma rapidez vai embora. É a ira “fogo de palha”. A segunda palavra é orge, que significa uma ira crônica, que se agasalha e se
aninha no peito e não cessa de arder. Um homem que nutre mágoas e ressentimentos em seu coração definitivamente nao está preparado para exercer o T ito e Filemom - doutrina e v ida um binôm io inseparável_________________ presbiterato."^ A palavra grega orgilos significa “colérico,
apimentado”."*’ Hans Burki diz que um valentão colérico ou apimentado em pouco tempo se torna solitário, alguém que tem apenas seguidores submissos, mas nao irmãos corresponsáveis.
O presbítero não deve ser dado ao vinho. Nem todos os presbíteros são totalmente abstêmios, mas todos sao chamados à temperança e à moderação."® A palavra grega paroinos significa literalmente ser indulgente com o vinho. A palavra descreve o caráter do homem que, ainda em seus
momentos sóbrios, atua com falta de autocontrole como se estivesse bêbado."’ Gene Getz nessa mesma linha de pensamento esclarece que paroinos descreve um homem que se assenta muito tempo junto ao seu vinho. Em outras palavras, ele bebe demais e, por conseguinte, fica escravizado pelo vinho e perde o controle dos seus sentidos.’^“ Embora nao ensinem a abstinência total, o Antigo e o Novo Testamento se colocam claramente contra a bebedeira (Pv 23.19-21,29-35; IPe 4.2,3).
O apóstolo Paulo é claro quando escreve aos efésios: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). Concordo com William
MacDonald quando fala que a Bíblia distingue entre o uso do vinho e seu abuso. Seu uso moderado era uma prática permitida quando Jesus transformou a água em vinho no casamento em Caná da Galileia (Jo 2.1-11). Seu uso com propósitos medicinais foi prescrito por Paulo a Timóteo
(lT m 5.23). Porém, o abuso do vinho é condenado nas Escrituras (Pv 20.1; 23.29-35; E f 5.18). Mesmo que a total abstinência não seja exigida nas Escrituras, há uma situação em que Como distinguir os pastores dos lobos
Paulo recomenda a abstinência, ou seja, quando o beber
vinho se torna motivo de escândalo para o irmão fraco
(Rm 14.21). Talvez seja por essa razão que muitos crentes
contemporâneos optaram pela abstinência.'^’
O presbítero não deve ser violento. A palavra plektes
significa literalmente “golpeador”. Trata de violência tanto
verbal quanto física. O plektes é o homem que ameaça e
intimida seu semelhante. Aquele, porém, que abandona
o amor e recorre à violência em palavras e ações nao está
preparado para exercer o presbiterato.'^^ A Bíblia faz
referência a homens que tiveram ímpetos de violência,
como Caim, que matou Abel; Moisés, que matou o egípcio;
e Pedro, que decepou a orelha de Malco. Essas atitudes são
inadequadas na vida de um presbítero. Aquele que governa
os outros precisa governar primeiro suas emoções, açÕes e
reações.
O presbítero não deve ser cobiçoso de torpe ganância. A
palavra grega aischorokerdes descreve a pessoa que não se
preocupa com os meios que utiliza para ganhar dinheiro,
conquanto que o faça.'“-^ Uma pessoa gananciosa subscreve
a ética jesuítica, de que os fins justificam os meios. Os cretenses
eram conhecidos como indivíduos inveteradamente
gananciosos. Plutarco, referindo-se a eles, disse que se apegavam
ao dinheiro como as abelhas ao mel. Enquanto os
falsos mestres ensinam o que não devem por torpe ganância
(1.11), os presbíteros precisam ser homens despojados
dessa torpe ganância (1.7). Segundo, o presbítero deve ser conhecido pelo que ele é e fa z
(1.8). Depois de ter falado dos pecados que o presbítero não
deve cometer, Paulo alista uma série de virtudes que devem ornar o seu caráter como despenseiro de Deus. William Barclay diz que essas virtudes se agrupam em três seções: as
T ito E F ilem om - doutrina e vida um binôm io inseparável qualidades que o presbítero deve demonstrar ante as outras pessoas, em relaçao a si mesmo e em relação à igreja.’“^
Vejamos as qualidades que o presbítero deve mostrar diante de outras pessoas.
O presbítero deve ser hospitaleiro. A palavra grega philoxenos significa: “amigo das pessoas estrangeiras”.'^^ No mundo antigo havia muitas pessoas que viajavam, e as pousadas e
estalagens eram caras, sujas e imorais. A hospitalidade era e é uma marca dos filhos de Deus. O presbítero precisa ter o coração, o bolso e a casa abertos não apenas para os irmãos,
mas também para os estrangeiros. A hospitalidade é um distintivo do povo de Deus desde a antiga dispensação (Lv 19.33,34). Na nova dispensaçãoessa virtude foi destacada repetidas vezes: “Seja constante o amor fraternal. Não negligencieis a hospitalidade” (Hb 13.1,2). O apóstolo Pedro escreveu: “Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração” (IPe 4.9). Muitos, sem saber, hospedaram anjos. N ao apenas nós devemos estar a serviço do Reino de Deus, mas também a nossa casa.
O presbítero deve ser amigo do bem. A palavra grega philagathos significa amante ou amigo do bem, das coisas boas ou das pessoas boas.'^*’ O presbítero precisa ser um homem amante das boas ações. Precisa ver o que existe de melhor nas pessoas. Ele não tem prazer mórbido de falar mal dos outros, mas tem grande deleite em dizer o bem (las pessoas. Ele não apenas chora com os que choram, mas lambém se alegra com os que se alegram. Vejamos, agora, as qualidades que o presbítero deve ter O presbítero deve ser sóbrio. A palavra grega sophron ik'screve o homem que tem domínio completo sobre suas Como distinguiras pastores dos lobos
paixões e desejos, o que o impede de ir além do que a lei e a razão lhe permitem e aprovam. Essa virtude era considerada pelos gregos a pedra fundamental da v i r t u d e . C a r l Spain diz que essa palavra traz a ideia de uma espécie de sabedoria prática que se reflete na aplicação da ética cristã à vida diária com outros.’^®
O presbítero deve ser justo. A palavra grega dikaios descreve
o homem que concede a Deus e aos homens o que lhes
é devido.'^’ O presbítero é um homem que não usa dois
pesos e duas medidas. Ele não faz acepção de pessoas nem
tolera preconceitos. Ele é justo no falar e no agir.
O presbítero deve serpiedoso. A palavra grega hosios descreve
o homem que reverencia a decência fundamental da vida,
as coisas que vão além de qualquer lei ou norma feita pelo
h o m e m . D e u s não usa grandes talentos, mas homens
piedosos. Nós somos o método de Deus. Nós estamos à
procura de melhores métodos, e Deus está à procura de
melhores homens. Deus não unge métodos, unge homens
piedosos.
O presbítero deve ter domínio próprio. A palavra grega
egkrates significa “dono de si mesmo”. D e s c r e v e a pessoa
que tem completo autocontrole. Ninguém está apto para
liderar os outros se não tem domínio de si mesmo. Aquele
que domina a si mesmo é mais forte do que aquele que
domina uma cidade.
Finalmente, vejamos a relação do presbítero com
a igreja. Essa relação se evidencia no seu ministério de
ensino da Palavra. Esse ponto será esclarecido no tópico
seguinte. Em terceiro lugar, o presbítero precisa ser irrepreensível como mestre da Palavra (1.9). O presbítero precisa ser um homem íntegro na sua relação com a família, com o
T ito e F ilemom - doutrina e vida um binôm io inseparável próximo e com as Escrituras. Deve ser um obreiro aprovado e manejar bem a Palavra da verdade. Paulo menciona aqui
três coisas importantes; O presbítero precisa demonstrar fidelidade doutrinária.
O presbítero precisa ser “[...] apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina...” (1.9). O presbítero não pode ser um neóíito (iT m 3.6); deve ser um mestre na Palavra. Ele precisa ser um estudioso das Escrituras. Ele precisa afadigar- se na Palavra (ITm 5.17). Paulo diz que os presbíteros têm dois ministérios com respeito à Palavra de Deus: 1) ediíicar a igreja pela sã doutrina; 2) rejeitar os falsos
mestres que espalham doutrinas perniciosas.'^^
O presbítero precisa demonstrar capacidade para o ensino. Paulo prossegue: “[...] de modo que tenha poder [...] para exortar pelo reto ensino...” (1.9). O poder para exortar não vem da força, das técnicas da psicologia nem mesmo do ofício que o presbítero ocupa, mas do conhecimento da verdade para aplicar corretamente as Escrituras. A exortação não é fruto de capricho ou opinião pessoal do presbítero, mas do reto ensino das Escrituras. Sua exortação está fundamentada no reto ensino da verdade. O presbítero precisa demonstrar habilidade na apologética.
Paulo diz que o presbítero precisa ter “[...] poder [...]
para convencer os que o contradizem” (1.9). Somente um
indivíduo que tem destreza na verdade pode confrontar
os falsos mestres, combater os falsos ensinos e convencer
aqueles que contradizem a Palavra de Deus.
John Stott está correto quando diz que refutar não
é apenas contradizer os oponentes, mas vencê-los pela
argumentação.'^’ O presbítero precisa ser um estudioso das
l^^scrituras para distinguir o falso do verdadeiro e o precioso
do vil.
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